quinta-feira, 26 de julho de 2012

Em debate com catadores, candidatos a prefeito propõem soluções para o lixo

Jornal do BrasilIgor Mello


Para uma plateia composta majoritariamente por catadores de material reciclável que não admitia ser chamados de "catadores de lixo", quase todos os candidatos à prefeitura do Rio debateram nesta terça-feira a reciclagem de material descartável e a política de sustentabilidade. Faltou o líder nas pesquisas: o atual prefeito, Eduardo Paes, que tem fugido de qualquer embate com os adversários. 
O debate aconteceu na Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas) e dele participaram Aspásia Camargo (PV), Cyro Garcia (PSTU), Fernando Siqueira (PPL), Marcelo Freixo (PSOL, Otávio Leite (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM). Surpresos, tiveram que lidar com as manifestações, nem sempre gentis, do público.

Acostumados com plateias que só se manifestam para aplaudir, os candidatos à prefeitura do Rio passaram poucas e boas ao falarem para um grupo de catadores de produtosrecicláveis. Espontâneo e sem papas na língua, o público questionou, aplaudiu e cobrou respostas mais claras quando julgou que os políticos "não respondiam nada".
Quem mais sofreu foi o socialista Cyro Garcia. Ignorando o politicamente correto, cumprimentou a classe de "catadores de lixo". Tomou uma reprimida da plateia, sob a exigência de que a categoria fosse tratada por "catadores de material reciclável". As cornetas voltaram a soar quando ele afirmou que iria contratar os catadores como funcionários públicos. O protesto foi geral: uns diziam que não queriam patrão, outros questionavam o fim da "autonomia do catador". Segundo ele, o discurso da sustentabilidade, dentro da lógica capitalista, "não passa de uma falácia", pois o sistema visa apenas o lucro:
"É um faz de conta achar que através de cooperativas e recursos do BNDES vão mudar essa cidade. Nossa proposta é a criação de uma empresa municipal de coleta de resíduos sólidos e a contratação de todos os catadores com salários dignos, sem a concorrência desleal da Comlurb", prometeu, sob reclamações.
Outro a defender a contratação formal dos catadores foi Fernando Siqueira, com recepção igualmente negativa. Ele criticou o esvaziamento da Comlurb, afirmando que 95% da coleta seletiva é feita por empresas tercerizadas. Para ele, o baixo nível de instrução da classe não inviabiliza a sua mobilização no serviço público:
"Podemos contratar essas pessoas, que têm experiência nessa atividade. Temos que treinar esse pessoal e conscientizar a população sobre a coleta seletiva", sugeriu.
Otavio Leite prometeu "reciclar a Comlurb". Acredita que a companhia não trabalha de maneira coordenada com as cooperativas de catadores e realiza funções que não são suas atribuições, como poda de árvores.
"Lamentavelmente apenas 3% do total do lixo produzido é reciclado. Nós vamos revolucionar este setor, apoiando e implantando cooperativas de catadores e reciclagem - oferecendo galpões e veículos, bem como atraindo empresas de reciclagem. É preciso compreender que o lixo tem valor. A vitoria da reciclagem das latinhas de alumínio será expandida para o plástico e o papel", prometeu.
O tucano também passou apertos por conta do seu vocabulário mais rebuscado. Uma das catadoras chegou a comentar que ele vinha com "muito blá-blá-blá". Outra observou, após uma resposta: "esse cara não responde nada, só enrola".
Autora de uma lei que regulamenta a gestão de resíduos, Aspásia Camargo também pregou que a prefeitura trabalhe em parceria com os catadores e estimule a economia criativa:
"Precisamos usar a criatividade do catador para gerar renda. A economia do Rio é muito pobre porque o governo não estimula a criatividade", afirmou, lembrando que os catadores da cidade vendem o fruto do seu trabalho para outros estados. "O produto da reciclagem não é concluído no Rio, vai para São Paulo ou Curitiba. Estamos perdendo toda essa riqueza", advertiu. A verde foi uma das queridinhas do público, com direito a demonstrações de apoio.
Rodrigo 
Maia criticou a falta de investimento na questão ambiental, sobretudo no tratamento do lixo reciclável. Para ele, muitos governantes tratam do assunto apenas como instrumento de propaganda. O demista sofreu, ainda que em menor escala, com o mesmo tipo de comentário de Leite. Mereceu mais consideração por ser "filho do Cesar Maia", segundo alguns.


"O tema do meio ambiente é muito charmoso, todo mundo fala muito, mas se faz muito pouco de concreto. Todos aqui vão ter opiniões similares, o que precisamos é de ação. A prefeitura precisa garantir que os catadores trabalhem sem intermediários", disse.
Último a falar, Marcelo Freixo fez um discurso incisivo e cobrou dos demais candidatos, especialmente Eduardo Paes, um posicionamento sobre o assunto:
"Quem diz que governa para todo mundo está mentindo para alguém. Ou se está do lado da indústria do lixo, ou com a questão social, com os catadores. Tem que dizer de que lado está", criticou, sendo muito aplaudido.
Os catadores fizeram perguntas e apelos. Pediram que os prefeitáveis intercedam por eles em outros municípios do estado, como Belford Roxo e Araruama. Aspásia, Freixo e Otavio Leite defenderam que a solução para o problema do lixo deve ser metropolitana, discutida em um grupo de trabalho formado junto com os prefeitos destas cidades vizinhas. 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Catadores de de Gericinó querem fundo de compensação


Cerca de 250 catadores de materiais recicláveis do Aterro de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, querem discutir com a prefeitura uma bolsa-auxílio para ampará-los após o fechamento do lixão. O prefeito Eduardo Paes anunciou que o vazadouro, que hoje recebe cerca de 700 toneladas/dia, fechará as portas até dezembro. É o único aterro com catadores da Região Metropolitana do Rio, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, proíbe a catação em vazadouros a céu aberto.
Eva Barbosa de Souza, de 36 anos, diz que a cooperativa de catadores do local enviou um ofício à Comlurb com reivindicações. Além de um fundo de compensação, querem um plano de encerramento do aterro e a inserção em programas sociais.
- Ainda não sei o que fazer quando o aterro fechar. Não sou contra fechar, é uma atividade desgastante, sujeita a contaminação. Mas as autoridades precisam nos dar alternativas, pois atuamos durante muito tempo ajudando o meio ambiente - diz Eva.