segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Brasil precisa erradicar 2.906 lixões até 2014, diz Ipea


O Brasil ainda tem 2.906 lixões distribuídos por 2.810 municípios que precisam ser erradicados até 2014, segundo estudo do Instituto de Pequisa Econômica Aplicada (Ipea), apresentado nesta quarta-feira em Brasília. A extinção dos lixões até o ano da Copa do Mundo foi determinada pela lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010 depois de 20 anos tramitando no Congresso Nacional.
A tarefa de acabar com os lixões até 2014, entretanto, é considerada difícil por técnicos do Ipea. Segundo o relatório, políticas públicas devem ser criadas para incentivar a reciclagem e a coleta seletiva. “Os consórcios públicos para a gestão dos resíduos sólidos podem ser uma forma de equacionar o problema dos municípios que ainda têm lixões como forma de disposição final”, sugere o documento.
De acordo com o estudo feito pelo órgão do governo federal, 74 mil t por dia de resíduos e rejeitos são depositados em aterros controlados e lixões. Apesar de o volume ainda ser significativo, o estudo do Ipea aponta uma redução de 18% nesse tipo de destinação de resíduos em oito anos.
A região Nordeste é a que abriga o maior número de municípios com lixões: são 1.598, o equivalente a 89% do total de cidades da região. “No geral, pode se afirmar que as maiores deficiências na gestão dos resíduos sólidos encontram-se nos municípios de pequeno porte, com até 100 mil habitantes, e naqueles localizados na Região Nordeste”, avalia o relatório.
Fonte: Terra

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Ex-catador luta pela dignidade de quem vivia do lixão em São Gonçalo


Na semana passada, telefonei para o ex-catador de lixo Adeir Albino conhecido como Ném, que desenvolve um importante projeto social nos arredores do lixão de Itaoca, desativado em fevereiro deste ano, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Nossa conversa foi interrompida por um menino que se aproximou de Adeir com pressa, muita pressa. Adeir me pediu licença e explicou ao garoto que logo iria atendê-lo. Voltou ao telefone e disse: "Você ouviu? É sempre assim". Eu tinha escutado. O menino tinha um motivo especial para querer logo atenção: estava com fome. Pedia por comida.
Senti um nó na garganta ao ouvir o apelo daquela voz infantil. E com uma agravante: já era noite... E à noite nossos sentimentos se intensificam e nossos fantasmas assombram se não tivermos força suficiente para enfrentá-los. Como disse Mário Quintana, "A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão". A voz fina e distante do menino ressoou em minha mente por bastante tempo. Mas havia um consolo: a presença de Adeir.
Aos 34 anos, o ex-catador mantém uma cooperativa de reciclagem de óleo de cozinha que, além de ajudar na preservação do meio ambiente, gera uma renda que permite a compra de alimentos para doação. Adeir fornece 300 cestas básicas por mês. Mas ainda é pouco. Segundo ele, cerca de 800 famílias viviam dos restos encontrados no terreno. A maioria ficou sem fonte de renda. A prefeitura oferece um curso para que, "mais tarde", os ex-catadores participem de um projeto de coleta seletiva. "Mais tarde" pode ser tarde demais. E a Haztec - responsável pela área do lixão - dá R$ 200 por mês a menos de 250 ex-catadores cadastrados. E os outros?
"Era preciso fechar o lixão? Era", reconhece Adeir. "Mas as pessoas têm direito a uma contrapartida", acrescenta. Semana passada, Adeir visitou Sebastião Carlos dos Santos, líder dos catadores de Gramacho. Pediu apoio para uma luta conjunta pela dignidade das pessoas que viviam do lixo por falta de alternativa. Muitas são analfabetas. Várias não têm documento de identidade.



quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Catadores pretendem permanecer na Alerj até governo se manifestar Gustavo Ribeiro | Rio+ | 23/08/2012 15h31


Tristeza, fome e indignação. Esses são os principais sentimentos que levaram mais de 300 catadores do extinto aterro sanitário de Itaoca, em São Gonçalo, a descerem em frente ao prédio da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), no Centro, na tarde desta quinta-feira para reclamar seus direitos aos parlamentares. Segundo eles, a prefeitura não está cumprindo a promessa de pagar R$ 200 mensais até 2014 depois da desativação do aterro, em fevereiro.
Munidos de faixas e cartazes, os manifestantes interditaram a Avenida Presidente Antônio Carlos, em frente à Alerj, por volta do meio-dia, impedindo a passagem dos ônibus. A Polícia Militar e a Guarda Municipal precisaram intervir para liberar o trânsito, que ficou bloqueado por cerca de 15 minutos.
Os catadores foram deslocados para a escadaria do prédio, de onde alegam que não vão sair enquanto não tiverem uma posição das autoridades sobre o pagamento da indenização prometida pela Prefeitura de São Gonçalo na época da desativação.
"Enquanto não tivermos solução e nada for resolvido, não vamos sair daqui. Queremos que o governo pague o que tirou da gente. Sem o lixão, a gente não come e não bebe", disse ao SRZD Isabel Cristina Dias da Silva, moradora do bairro Fazenda do Mineiro, que tem sustentado a família pedindo ajuda nas ruas.
Perguntada se preferia a indenização da prefeitura ou o lixão de volta, a desempregada não soube responder. "Ou o lixão o dinheiro. Na situação que nós estamos, a gente prefere tudo", desabafou.
Cláudio Roberto, morador da Fazenda dos Mineiros, revelou ao SRZD a situação precária em que vivem as pessoas que tiravam do aterro o sustento de vida. Cláudio contou que apenas 6% dos catadores receberam o benefício de R$ 200 prometido pela administração municipal. No entanto, segundo ele, os pagamentos já foram suspensos.
"Algumas pessoas chegaram a receber. Pagaram duas parcelas e mais nada. Só 6% de toda a população recebeu e eu mesmo não recebi. Alguns estão arrumando biscate, mas outros que não conseguem estão passando fome, morando em barraco de tábua, com rato e esgoto vazando", contou Cláudio. "Estamos sem casa e sem comida por causa do governo que está comendo o nosso dinheiro", completou Marcelo Augusto Faria, amigo de Cláudio.
SRZD falou com um segurança que estava na porta do prédio da Alerj, mas ele declarou que os deputados só chegam ao local após as 16h e até o momento não havia ninguém para atender os manifestantes.
No meio do protesto, um voluntário distribuiu frutas para as famílias presentes. Abordada pela reportagem, uma mulher que não quis ser identificada disse que os dois filhos não comem "há um bocado de tempo". Eles ainda estavam em jejum naquele horário.



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Catadores do lixão de Itaoca fazem manifestação no Centro do Rio


Cerca de 200 catadores do lixão de Itaoca, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, realizaram uma manifestação, nesta quinta-feira (23), no Centro do Rio. O grupo seguiu em passeata desde a Ponte Rio Niterói até a escadaria da Assembléia Legislativa do Estado (Alerj). Empunhando faixas e cartazes os manifestantes promoveram também um apitaço para chamar a atenção das autoridades.
Eles alegam que, com o fechamento do aterro sanitário, em fevereiro deste ano, as atividades foram encerradas sem o recebimento da ajuda de custo que as autoridades prometeram. O grupo pede o mesmo tratamento dado aos catadores de Gramacho, na Baixada Fluminense, além da abertura de uma negociação com o governo do Estado e a Prefeitura de São Gonçalo.
Segundo o Centro de Operações, os manifestantes chegaram a ocupar as quatro faixas da Rua Primeiro de Março, interditando o tráfego na via. Agentes da Cet-Rio foram acionados para reorganizar o trânsito no local.
Aterro de Gramacho
As atividades do Aterro Metropolitano de Gramacho, inaugurado há 34 anos, foram encerradas no dia 3 de junho. O local recebia o lixo das cidades do Rio e de Duque de Caxias.
Segundo a Prefeitura, no local passará a funcionar uma Usina de Biogás, que transformará o metano proveniente da decomposição do lixo em gás verde, que será vendido para a Reduc. O material será utilizado como substituto do gás natural para fins energéticos.
Ao todo, os catadores receberam uma indenização de R$ 14 mil. O pagamento seria feito ao longo de 14 anos, mas a Prefeitura resolveu fazer o desembolso do valor total.
Com o encerramento do lixão de Gramacho, o lixo da cidade passou a ser levado para Central de Tratamento de Resíduos (CTR Rio), em Seropédica, o mais moderno da América Latina. Já o lixo de outros municípios, é levado para a central de Nova Iguaçu. Ainda há a previsão da inauguração de um novo aterro em Paracambi, também na Baixada Fluminense.
A decisão de fechar o lixão de Gramacho veio porque além de ser localizado num ecossistema sensível, numa região de mangue e de vazante de dois rios, o local apresenta rachaduras por conta da falta de preparo para receber uma quantidade tão grande de resíduos, com risco de vazamento do chorume na Baía.


Catadores do lixão de Itaoca fazem manifestação no Centro do Rio


Cerca de 200 catadores do lixão de Itaoca, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, realizaram uma manifestação, nesta quinta-feira (23), no Centro do Rio. O grupo seguiu em passeata desde a Ponte Rio Niterói até a escadaria da Assembléia Legislativa do Estado (Alerj). Empunhando faixas e cartazes os manifestantes promoveram também um apitaço para chamar a atenção das autoridades.
Eles alegam que, com o fechamento do aterro sanitário, em fevereiro deste ano, as atividades foram encerradas sem o recebimento da ajuda de custo que as autoridades prometeram. O grupo pede o mesmo tratamento dado aos catadores de Gramacho, na Baixada Fluminense, além da abertura de uma negociação com o governo do Estado e a Prefeitura de São Gonçalo.
Segundo o Centro de Operações, os manifestantes chegaram a ocupar as quatro faixas da Rua Primeiro de Março, interditando o tráfego na via. Agentes da Cet-Rio foram acionados para reorganizar o trânsito no local.
Aterro de Gramacho
As atividades do Aterro Metropolitano de Gramacho, inaugurado há 34 anos, foram encerradas no dia 3 de junho. O local recebia o lixo das cidades do Rio e de Duque de Caxias.
Segundo a Prefeitura, no local passará a funcionar uma Usina de Biogás, que transformará o metano proveniente da decomposição do lixo em gás verde, que será vendido para a Reduc. O material será utilizado como substituto do gás natural para fins energéticos.
Ao todo, os catadores receberam uma indenização de R$ 14 mil. O pagamento seria feito ao longo de 14 anos, mas a Prefeitura resolveu fazer o desembolso do valor total.
Com o encerramento do lixão de Gramacho, o lixo da cidade passou a ser levado para Central de Tratamento de Resíduos (CTR Rio), em Seropédica, o mais moderno da América Latina. Já o lixo de outros municípios, é levado para a central de Nova Iguaçu. Ainda há a previsão da inauguração de um novo aterro em Paracambi, também na Baixada Fluminense.
A decisão de fechar o lixão de Gramacho veio porque além de ser localizado num ecossistema sensível, numa região de mangue e de vazante de dois rios, o local apresenta rachaduras por conta da falta de preparo para receber uma quantidade tão grande de resíduos, com risco de vazamento do chorume na Baía.


Catadores do lixão de Itaoca fazem manifestação no Centro do Rio


Cerca de 200 catadores do lixão de Itaoca, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, realizaram uma manifestação, nesta quinta-feira (23), no Centro do Rio. O grupo seguiu em passeata desde a Ponte Rio Niterói até a escadaria da Assembléia Legislativa do Estado (Alerj). Empunhando faixas e cartazes os manifestantes promoveram também um apitaço para chamar a atenção das autoridades.
Eles alegam que, com o fechamento do aterro sanitário, em fevereiro deste ano, as atividades foram encerradas sem o recebimento da ajuda de custo que as autoridades prometeram. O grupo pede o mesmo tratamento dado aos catadores de Gramacho, na Baixada Fluminense, além da abertura de uma negociação com o governo do Estado e a Prefeitura de São Gonçalo.
Segundo o Centro de Operações, os manifestantes chegaram a ocupar as quatro faixas da Rua Primeiro de Março, interditando o tráfego na via. Agentes da Cet-Rio foram acionados para reorganizar o trânsito no local.
Aterro de Gramacho
As atividades do Aterro Metropolitano de Gramacho, inaugurado há 34 anos, foram encerradas no dia 3 de junho. O local recebia o lixo das cidades do Rio e de Duque de Caxias.
Segundo a Prefeitura, no local passará a funcionar uma Usina de Biogás, que transformará o metano proveniente da decomposição do lixo em gás verde, que será vendido para a Reduc. O material será utilizado como substituto do gás natural para fins energéticos.
Ao todo, os catadores receberam uma indenização de R$ 14 mil. O pagamento seria feito ao longo de 14 anos, mas a Prefeitura resolveu fazer o desembolso do valor total.
Com o encerramento do lixão de Gramacho, o lixo da cidade passou a ser levado para Central de Tratamento de Resíduos (CTR Rio), em Seropédica, o mais moderno da América Latina. Já o lixo de outros municípios, é levado para a central de Nova Iguaçu. Ainda há a previsão da inauguração de um novo aterro em Paracambi, também na Baixada Fluminense.
A decisão de fechar o lixão de Gramacho veio porque além de ser localizado num ecossistema sensível, numa região de mangue e de vazante de dois rios, o local apresenta rachaduras por conta da falta de preparo para receber uma quantidade tão grande de resíduos, com risco de vazamento do chorume na Baía.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

ACORDO GARANTE R$ 3,5 MILHÕES PARA O POLO DE RECICLAGEM DE GRAMACHO


Petrobras investirá em maquinário e galpões: alternativa para catadores.





A Petrobras terá de investir R$ 3,5 milhões na implementação do Polo de Reciclagem de Gramacho. Um convênio com esse objetivo foi assinado nesta sexta-feira (17/08) entre a Secretaria do Ambiente, a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) e a organização civil Pangea – Centro de Estudos Socioambientais. Os recursos serão destinados ao planejamento e à organização da 1ª etapa desse empreendimento, com maquinário e galpões.
 A destinação, pela petrolífera, dos recursos para a montagem do Polo Reciclagem de Gramacho consta de um item do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado, em outubro de 2011, entre a Secretaria do Ambiente, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e a Petrobras, no valor total de R$ 1 bilhão. Esse montante será aplicado em ações ambientais e em melhorias da área operacional da Reduc; sendo que R$ 3,5 milhões na instalação do polo de reciclagem.

O convênio foi firmado nesta sexta-feira durante reunião entre o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, o gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Petrobras, Cândido Luis Queiroz da Silva, o gerente de Divisão da Fundação Banco do Brasil, Jefferson D’Avila de Oliveira, e o representante do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável Tião Santos, além de representantes de cooperativas de catadores.

Na reunião, também fazendo parte do TAC da Reduc, foi firmado um segundo convênio entre a refinaria e a Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano Jardim Gramacho (ACAMJG), em que a Petrobras se compromete a doar resíduos recicláveis da Reduc para o polo de reciclagem, garantindo assim um insumo de qualidade para o trabalho a ser desenvolvido no local.

O secretário Carlos Minc relembrou que no TAC firmado, em outubro de 2011, com a Reduc, a Petrobras também se compromete a investir em uma série de projetos ambientais, dentre eles, para a redução das emissões atmosféricas e na melhoria do tratamento de efluentes da refinaria e na construção de uma Unidade de Tratamento de Rio (UTR) na foz do Rio Irajá.

- Nesse TAC, também ficou acertado que a estatal terá de investir em coleta seletiva e na reciclagem do lixo, beneficiando as cooperativas de catadores. O polo de reciclagem é a novidade, e vai permitir transformar o catador em reciclador, agregando valor ao transformar, por exemplo, material de construção civil em tijolo. Isso será uma alternativa de renda para os catadores. Desta forma, estamos fazendo o cumpra-se da Lei Nacional de Resíduos Sólidos, promovendo assim a chamada logística reversa, ou seja, trazendo de volta para a produção aquilo que está sendo jogado no lixo - explicou Minc.

Na reunião, o presidente do Pangea – Centro de Estudos Socioambientais –, uma Organização da Sociedade Civil para o Interesse Público (OSCIP), Antonio Bunchaft, apresentou o projeto do Polo Metropolitano de Reciclagem dos Catadores de Gramacho. O projeto inclui, entre outros, um planejamento de toda a infraestrutura física do empreendimento, com a construção de galpões, aquisição de maquinário, construção de um centro administrativo para cursos de qualificação profissional para os catadores, creche, unidades de processamento de resíduos, elaboração de plano de gestão e assessoramento e elaboração de um plano de qualificação profissional.

- O projeto é estratégico porque pela primeira vez, em nível de referência nacional, será levada em conta a inclusão socioeconômica de catadores que atuavam em um lixão. O projeto consiste em um conjunto de estudos de viabilidade econômica, de mercado da reciclagem no Rio e na Região Sudeste do país para definir quais são os equipamentos necessários, como galpões para se estruturar esse polo reciclador de Gramacho - disse ele, acrescentando que a meta é entregar para a Secretaria do Ambiente, em seis meses, o projeto concluído. E ao longo da execução do projeto, a perspectiva é entregar um galpão construído em três meses.

Para a construção dos galpões já estão reservados, segundo Minc, mais recursos da ordem de R$ 1,5 milhão do Fecam (Fundo Estadual de Conservação Ambiental).

Na reunião, o gerente de Divisão da Fundação Banco do Brasil, Jefferson D’Avila de Oliveira, propôs a construção de uma usina de reciclagem de material de construção civil no Polo Reciclador de Gramacho.

- Os resíduos de material de construção são um problema de dimensão tão preocupante quanto o próprio lixo porque esses resíduos, sendo direcionados para aterros, provocam uma redução da vida útil desses aterros. Esse material é bastante rico, se bem trabalhado. Isso porque produz cinco agregados, desde a areia à famosa bica corrida, que serve para a estrada, mas que pode ser utilizado para a fabricação de artefatos como tijolos e lajotas, entre outros. Então, esse material é reinserido na urbanização e até na construção de casas. A nossa proposta é de que esse material seja utilizado na construção de casas - afirmou Oliveira.

Representante do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável no Rio de Janeiro Tião Santos elogiou a inciativa, destacando que a experiência do Polo de reciclagem de Jardim Gramacho poderá servir de modelo para todo o país. 



terça-feira, 7 de agosto de 2012

Canteiro escola muda a realidade de ex-catadores do lixão de Gramacho


Dois meses após sua inauguração, o Canteiro Escola da Faetec já transforma a realidade de ex-catadores de lixo em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Cerca de 60 pessoas, a maioria ex-catadores, foram capacitadas em cursos oferecidos pela Fundação de Apoio à Escola Técnica. As próximas turmas começam na próxima sexta-feira (10/8).
– Essa escola é uma oportunidade maravilhosa. Aqui as pessoas aprendem a abrir portas. Eu, por exemplo, estou construindo a minha casa com o que aprendi aqui – disse  a ex-catadora do Lixão de Gramacho e aluna do curso de Pedreiro,  Izonilda Ferreira.
Cerca de 95% dos catadores não sabem fazer outra coisa, senão a reciclagem. Aqui eles estão aprendendo uma profissão que promoverá novos rumos para suas vidas – comenta o ex-catador que trabalhou por 26 anos no Aterro de Jardim Gramacho.

O projeto, que funciona numa estrutura de 936 m², recebeu investimento de R$ 250 mil. Além dos cursos para a Formação Inicial e Continuada (FIC) de Eletricista Instalador Predial de Baixa Tensão, Encanador Instalador Predial, Pedreiro de Alvenaria, Carpinteiro de Obras e Informática Básica, a unidade oferece aulas complementares de Língua Portuguesa e Matemática.

Todos os cursos oferecidos pela escola são gratuitos e têm como objetivo requalificar os profissionais que dependiam do funcionamento da área do Lixão, que funcionava há mais de 30 anos às margens da Baía de Guanabara, considerado o maior da América Latina. Os moradores do entorno da escola também podem usufruir da unidade.

Outro que também reconhece a transformação de vida é o ex-catador Marco José Tavares, hoje aluno dos cursos de Pedreiro e de Carpinteiro, que já trabalha na Construção Civil.

– Trabalhar no Aterro era como estar em uma guerra e na guerra você vê de tudo um pouco. Para sobreviver a gente deixava passar o que não servia e se agarrava naquilo que mantinha a nossa sobrevivência. Agora, saímos de uma guerra e voltamos sonhar – disse.

Parcerias

O coordenador do Canteiro Escola, Helymar Araújo, ressalta que o sucesso do projeto é fruto de parcerias bastante consolidadas.

– O comprometimento da Faetec que acreditou na ideia e a dedicação dos professores, aliado ao empenho dos alunos estão promovendo o resgate da cidadania dessas pessoas – afirmou Helymar Araújo.

Política Nacional de Resíduos Sólidos é debatida por catadores e empresários no Rio


A participação dos catadores de material reciclável na coleta seletiva e o envolvimento da população na separação do lixo estiveram no centro das discussões sobre a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em evento, na capital fluminense.
Catadores e empresários concordaram sobre a importância de se valorizar cada vez mais a coleta seletiva do lixo.
Um dos coordenadores do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) , Custódio da Silva, cobrou, durante os debates, um levantamento que identifique os catadores que trabalham nos 47 lixões ainda em funcionamento na região metropolitana do Rio e a urgência na contratação das cooperativas para a separação do lixo, aproveitando o material reciclável. "Queremos fazer o mesmo serviço que a prefeitura paga para as empresas privadas e que, segundo a lei, seria de nossa responsabilidade", disse.
Ele também falou sobre a atual situação dos catadores de lixões que foram fechados em vários municípios da região metropolitana como Belford Roxo, São Gonçalo, Niterói, Magé e em Campos dos Goytacazes, na região norte. Nesses locais, segundo Silva, os catadores ficaram sem perspectiva de emprego e renda, contrariando o que diz a legislação no caso do fechamento das unidades.
O diretor executivo do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), André Vilhena, defendeu a diminuição de impostos sobre produtos recicláveis. Segundo ele, isso incentivaria o consumo consciente e a aplicação de mais recursos em tecnologia e na logística reversa (recolhimento pela empresa do produto descartado). "Devíamos praticamente zerar impostos federais", disse.
Preocupados com a obrigatoriedade de as empresas recolherem determinados produtos como pilhas e baterias, que não podem ser descartadas no lixo comum (a chamada de logística reversa), as empresas privadas também aproveitaram para destacar o papel dos catadores, que, pela capilaridade da atuação, são fundamentais para ajudar na reciclagem.
Os empresários defenderam a inclusão dos catadores na cadeia do material reciclável. Na avaliação deles, os trabalhadores têm condições de coletar itens de forma mais eficiente que as prefeituras, ajudando a reduzir os gastos com o que é depositado em aterros privados e com a coleta que é feita, muitas vezes, por empresas terceirizadas.
Além de catadores, gestores públicos e representantes do setor industrial, os candidatos à prefeitura carioca nas eleições deste ano também participaram dos debates. Estiveram presentes: Aspásia Camargo (PV), Rodrigo Maia (DEM), Cyro Garcia (PSTU), Fernando Siqueira (PPL), Otavio Leite (PSDB) e Marcelo Freixo (PSOL). Antonil Carlos (PCO) e o prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, não compareceram.


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Em debate com catadores, candidatos a prefeito propõem soluções para o lixo

Jornal do BrasilIgor Mello


Para uma plateia composta majoritariamente por catadores de material reciclável que não admitia ser chamados de "catadores de lixo", quase todos os candidatos à prefeitura do Rio debateram nesta terça-feira a reciclagem de material descartável e a política de sustentabilidade. Faltou o líder nas pesquisas: o atual prefeito, Eduardo Paes, que tem fugido de qualquer embate com os adversários. 
O debate aconteceu na Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas) e dele participaram Aspásia Camargo (PV), Cyro Garcia (PSTU), Fernando Siqueira (PPL), Marcelo Freixo (PSOL, Otávio Leite (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM). Surpresos, tiveram que lidar com as manifestações, nem sempre gentis, do público.

Acostumados com plateias que só se manifestam para aplaudir, os candidatos à prefeitura do Rio passaram poucas e boas ao falarem para um grupo de catadores de produtosrecicláveis. Espontâneo e sem papas na língua, o público questionou, aplaudiu e cobrou respostas mais claras quando julgou que os políticos "não respondiam nada".
Quem mais sofreu foi o socialista Cyro Garcia. Ignorando o politicamente correto, cumprimentou a classe de "catadores de lixo". Tomou uma reprimida da plateia, sob a exigência de que a categoria fosse tratada por "catadores de material reciclável". As cornetas voltaram a soar quando ele afirmou que iria contratar os catadores como funcionários públicos. O protesto foi geral: uns diziam que não queriam patrão, outros questionavam o fim da "autonomia do catador". Segundo ele, o discurso da sustentabilidade, dentro da lógica capitalista, "não passa de uma falácia", pois o sistema visa apenas o lucro:
"É um faz de conta achar que através de cooperativas e recursos do BNDES vão mudar essa cidade. Nossa proposta é a criação de uma empresa municipal de coleta de resíduos sólidos e a contratação de todos os catadores com salários dignos, sem a concorrência desleal da Comlurb", prometeu, sob reclamações.
Outro a defender a contratação formal dos catadores foi Fernando Siqueira, com recepção igualmente negativa. Ele criticou o esvaziamento da Comlurb, afirmando que 95% da coleta seletiva é feita por empresas tercerizadas. Para ele, o baixo nível de instrução da classe não inviabiliza a sua mobilização no serviço público:
"Podemos contratar essas pessoas, que têm experiência nessa atividade. Temos que treinar esse pessoal e conscientizar a população sobre a coleta seletiva", sugeriu.
Otavio Leite prometeu "reciclar a Comlurb". Acredita que a companhia não trabalha de maneira coordenada com as cooperativas de catadores e realiza funções que não são suas atribuições, como poda de árvores.
"Lamentavelmente apenas 3% do total do lixo produzido é reciclado. Nós vamos revolucionar este setor, apoiando e implantando cooperativas de catadores e reciclagem - oferecendo galpões e veículos, bem como atraindo empresas de reciclagem. É preciso compreender que o lixo tem valor. A vitoria da reciclagem das latinhas de alumínio será expandida para o plástico e o papel", prometeu.
O tucano também passou apertos por conta do seu vocabulário mais rebuscado. Uma das catadoras chegou a comentar que ele vinha com "muito blá-blá-blá". Outra observou, após uma resposta: "esse cara não responde nada, só enrola".
Autora de uma lei que regulamenta a gestão de resíduos, Aspásia Camargo também pregou que a prefeitura trabalhe em parceria com os catadores e estimule a economia criativa:
"Precisamos usar a criatividade do catador para gerar renda. A economia do Rio é muito pobre porque o governo não estimula a criatividade", afirmou, lembrando que os catadores da cidade vendem o fruto do seu trabalho para outros estados. "O produto da reciclagem não é concluído no Rio, vai para São Paulo ou Curitiba. Estamos perdendo toda essa riqueza", advertiu. A verde foi uma das queridinhas do público, com direito a demonstrações de apoio.
Rodrigo 
Maia criticou a falta de investimento na questão ambiental, sobretudo no tratamento do lixo reciclável. Para ele, muitos governantes tratam do assunto apenas como instrumento de propaganda. O demista sofreu, ainda que em menor escala, com o mesmo tipo de comentário de Leite. Mereceu mais consideração por ser "filho do Cesar Maia", segundo alguns.


"O tema do meio ambiente é muito charmoso, todo mundo fala muito, mas se faz muito pouco de concreto. Todos aqui vão ter opiniões similares, o que precisamos é de ação. A prefeitura precisa garantir que os catadores trabalhem sem intermediários", disse.
Último a falar, Marcelo Freixo fez um discurso incisivo e cobrou dos demais candidatos, especialmente Eduardo Paes, um posicionamento sobre o assunto:
"Quem diz que governa para todo mundo está mentindo para alguém. Ou se está do lado da indústria do lixo, ou com a questão social, com os catadores. Tem que dizer de que lado está", criticou, sendo muito aplaudido.
Os catadores fizeram perguntas e apelos. Pediram que os prefeitáveis intercedam por eles em outros municípios do estado, como Belford Roxo e Araruama. Aspásia, Freixo e Otavio Leite defenderam que a solução para o problema do lixo deve ser metropolitana, discutida em um grupo de trabalho formado junto com os prefeitos destas cidades vizinhas. 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Catadores de de Gericinó querem fundo de compensação


Cerca de 250 catadores de materiais recicláveis do Aterro de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, querem discutir com a prefeitura uma bolsa-auxílio para ampará-los após o fechamento do lixão. O prefeito Eduardo Paes anunciou que o vazadouro, que hoje recebe cerca de 700 toneladas/dia, fechará as portas até dezembro. É o único aterro com catadores da Região Metropolitana do Rio, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, proíbe a catação em vazadouros a céu aberto.
Eva Barbosa de Souza, de 36 anos, diz que a cooperativa de catadores do local enviou um ofício à Comlurb com reivindicações. Além de um fundo de compensação, querem um plano de encerramento do aterro e a inserção em programas sociais.
- Ainda não sei o que fazer quando o aterro fechar. Não sou contra fechar, é uma atividade desgastante, sujeita a contaminação. Mas as autoridades precisam nos dar alternativas, pois atuamos durante muito tempo ajudando o meio ambiente - diz Eva.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

GOVERNO FIRMA CONVÊNIOS E ENTREGA CAMINHÕES AS COOPERATIVAS DE CATADORES.


O governo federal, em parceria com a Fundação Banco do Brasil, Petrobras e o Incra, assinou convênios e entregou 22 caminhões para cooperativas de catadores de materiais recicláveis, na manhã desta sexta-feira (22), na Arena Socioambiental da Rio+20, na Cúpula dos Povos. Ao todo, serão entregues 140 caminhões em todo o país. “Nesse momento, estamos repassando 22 chaves às cooperativas, que vão contribuir para o importantíssimo trabalho social, econômico e sustentável que desenvolvem”, disse o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jorge Streit.
No palco Encontros Globais, Sebastião Santos, o Tião, presidente da cooperativa dos catadores do Jardim Gramacho e um dos líderes do Movimento dos Catadores de Materiais Recicláveis, assinou também convênio com o Incra para receber um terreno de 41 mil metros quadrados onde serão realocadas as famílias que viviam próximo ao lixão de Gramacho, recentemente fechado.
Representando os catadores brasileiros, Tião recebeu a chave de um dos caminhões e firmou convênio com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para qualificação profissional dos trabalhadores. “O fato de o lixão de Gramacho ter sido fechado não representa o fim das nossas lutas e a exclusão daqueles que historicamente já eram excluídos nos últimos 35 anos. Como um dos líderes do movimento, afirmo para todos vocês que meu propósito é construir, junto com todos, e lutar cada vez mais por melhores condições para nós, catadores de materiais recicláveis”, disse.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, assinalou que a cerimônia representa um marco na história do país. “É a concretização do velho sonho de apoiar fortemente os movimentos dos catadores no Brasil.” O ministro destacou que o relacionamento e a cobrança dos movimentos sociais estão fazendo a política governamental cumprir cada vez mais o papel que deve. “A máquina pública está sendo colocada, cada dia mais, a serviço do povo, e isso só acontece porque vocês se organizam e lutam pelos seus direitos”, disse.
Para o economista e professor Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária, o trabalho dos catadores precisa ser continuamente valorizado e receber investimentos do governo. “Reciclar é preservar a natureza. Do ponto de vista social, o papel deles é crucial. Organizando-se em cooperativas, eles definem o próprio caminho e ganham força para cobrar do governo.”
O ex-ministro Carlos Minc, secretário do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, destacou que governos e sociedade precisam modificar o discurso que separa o dinheiro da natureza. “Sem o meio ambiente não há economia. De que adianta lucrar bilhões e não ter um planeta onde investir esse dinheiro? É preciso parar com a esquizofrenia que separa investimento econômico de desenvolvimento sustentável consciente, preservando o meio ambiente.”
Raphael Rocha

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Tião encanta público com discurso sobre educação para a sustentabilidade


RIO - Presidente da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho - ACAMJG, Tião dos Santos encantou, nesta quinta-feira, o público de 500 educadores durante o seminário A Voz do Professor, no Forte de Copacabana, no evento Humanidade 2012. Falando com desenvoltura sobre reciclagem no Brasil, o catador ressaltou a importância da educação para a promoção do desenvolvimento sustentável e lembrou que sua vida começou a mudar depois que participou de um curso sobre jovens lideranças de comunidades. Na ocasião, Tião contou que, ao final do curso, comentou com o professor que estava indignado e que era mais feliz antes, quando não tinha noções de cidadania nem conhecimento sobre a Constituição Brasileira. Em resposta, o professor disse que a indignação dele deveria servir para mudar a realidade.
- Aquilo me feriu, e fiquei pensando que era isso que eu devia fazer. Não adiantava pensar que onde tinha corpo, urubu e lixo estava tudo certo. Não bastava eu me indignar, eu tinha que mudar a minha realidade. E este é o grande desafio da sustentabilidade. Não basta colocar o problema na mesa e arrumar um culpado. É preciso mudar e mudar agora.
Tião ganhou fama ao participar do premiado documentário Lixo Extraordinário. No evento, parecia astro, e tirou foto com participantes. Durante a palestra, entretando, discursou como especialista. Citou uma série de dados sobre o lixo no país tentando sensibilizar o público sobre a importância da reciclagem: "o Brasil produz por dia cerca de 240 mil toneladas de lixo"; " em nosso país, 95% de todo o lixo produzido tem como o destino lixões a céu aberto, só 5% tem como destino aterro sanitário"; "2% tem destino a reciclagem, apesar de cerca de 40% do total do lixo é matéria-prima potencialmente reciclável"; "o Brasil literalmente joga no lixo R$ 8 bilhões anualmente".
Ainda no seminário, Tião defendeu a mudanças de hábitos da população:


- Não se pode vender sustentabilidade, ela é uma mudança de atitude, uma responsabilidade de cada um de nós. É a preservação da vida humana, que também inclui a preservação do bem comum e da natureza do ser humano.

Flávia Milhorance - O Globo



quinta-feira, 14 de junho de 2012

“Missão da Rio+20 é conscientizar a população”, afirma Tião Santos, protagonista do filme Lixo Extraordinário


Tião Santos, catador de material reciclado, que ficou famoso com o documentário “Lixo extraordinário”, está hoje na Rio+20 para participar do debate “A Voz do Professor”, no Forte de Copacabana.  Para Tião, a importância da Rio+20 é a conscientização da população. “Não adianta as decisões serem tomadas no Riocentro se a população não se conscientizar da sua relação com o meio ambiente”, declara.
Tião Santos, que é presidente da Associação de catadores e material reciclado de Jardim Gramacho, contou que ficou impressionado com as exposições e de como os materiais reciclados foram utilizados nos espaços do Forte de Copacabana.
Lixo Extraordinário mostra o  trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro.
qui, 14/06/12
por juliana briggs |

terça-feira, 10 de abril de 2012

A matriarca do lixão: Dona Geruza é a Mãe Lucinda, de “Avenida Brasil”, da vida real


No lixão de Gramacho, crianças abandonadas pelas famílias eram chamadas de "tapurus de rampa" — tapuru é o nome dos vermes nascidos em detritos. Mas Dona Geruza Maria dos Santos, de 62 anos, dos quais 26 de "guerra com o lixo", nunca viu bichos. Viu filhos. São mais de cem. Se a mãe Lucinda de Vera Holtz amassou o coração do Brasil na primeira fase da novela das nove ao adotar a pequena Rita (Mel Maia), sua décima terceira protegida, o que dizer de Dona Geruza, que, na vida real, criou oito filhos naturais, abrigou 15 e ainda ofereceu casa, colo e carinho para dezenas de famílias de catadores? É a matriarca do lixão.
Face revelada
Pernambucana arretada, viúva há cinco anos do portuário Carlos, pai dos seus oito meninos e único "namorado" na vida, Geruza foi a primeira catadora de lixo a mostrar o rosto para uma equipe de TV. Quando jornalistas chegavam a Gramacho, todos se escondiam por vergonha. A matriarca ensinou aos filhos que a vida de catador podia ser desumana, sim. Mas, nunca, desonrosa. Então, não poderia se esconder. E nem esquecer a lição dada à repórter que lhe perguntou qual era a sensação de trabalhar com lixo:
— Médico faz autopsia, você pergunta se ele está satisfeito? Por que pergunta isso para mim? — disparou.
No outro dia, encontrou o filho Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, então com 15 anos, chorando. Os colegas da escola tinham descoberto que ele era filho da "chepeira". Catador é palavra fruto de nossos tempos politicamente corretos. O adolescente lia insultos escritos no quadro-negro da escola.
— Aquele foi meu último dia de paz. Sofri bullying— conta Tião, de 33 anos, hoje presidente da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho (Acamjg).
Filho da mulher que mostrou a face dos catadores na TV, em rede nacional, Tião levou o Jardim Gramacho para o tapete vermelho. Ele é um dos personagens do documentário "Lixo extraordinário", sobre o trabalho do artista plástico Vik Muniz com os trabalhadores do aterro. O filme foi indicado ao Oscar no ano passado.
— Quando vi meu filho de smoking, no Oscar, pensei: "Jesus, a nossa história está toda ali" — exultou Geruza, a mulher capaz de recolher vidas do abandono.
Do lixo ao sex shop
Catadora dos 10 aos 15 anos, Luciana Bandeira, de 37, hoje é vendedora do tipo "frango com tudo dentro". Aceita encomendas de roupa de cama, vestuário, calcinhas e até vibradores e outros produtos de sex shop. Sobrinha de Geruza, ela se orgulha de pagar colégio particular para os três filhos. Frisa que eles têm computador, fazem curso de inglês e dormem "cada um no seu quarto".
— Quero proporcionar um futuro para eles. Nossa vida era difícil. Dormiam quatro, cinco crianças na mesma cama — lembra Luciana, que começou a profissão organizando um brechó de peças recolhidas no lixão.
— Quando fiquei desempregada, conversei com meu marido e voltei a ser catadora. Achava muita roupa de madame. Sapato de salto, terninho, coisa com etiqueta. Decidi fazer um brechó. Há dois anos, deixei de ser catadora.
Soluções criativas não faltavam num aterro sanitário. Mulheres cravavam as unhas nos pedaços de melancia para perfumar as unhas durante o trabalho duro. Se o chão "explodia" — pela ação do gás expelido pela degradação do lixo —, o fogo gerado aquecia panelas com a sopa de entulho. Nada era perdido.
— Quando a gente era criança, catava os biscoitos que os supermercados descartavam. Eram quebrados, mas fechados. Ninguém contava na escola de onde vinham. Era nosso segredo — conta.
Tesouros
Histórias de tesouros no lixão não faltam. "Uma vez, uma empresa jogou todo o malote de pagamento no lixo por engano. Mas sabiam qual tinha sido o caminhão. Torcemos para que não achassem o dinheiro, mas acharam. Teve também o Baiano, que achou uma fortuna em dólares escondida em latas de leite. Ele nem sabia que aquilo era dinheiro de verdade. Um comerciante avisou e ele voltou para a Bahia. Ficou rico", conta Glória Santos, filha de Geruza.
Preconceito
O único vilão do aterro era o preconceito. "O pessoal das casas construídas em Gramacho não usava nem o mesmo ônibus que a gente", lembra Tião. "Se a gente chegasse na praça de Gramacho, chamavam de urubu. E agrediam mesmo, ameaçavam. A gente não podia ir lá", lembra Márcio de Oliveira, de 23 anos.
Bonecas
Aos 8 anos, Glória e Luciana andavam até uma hora para entrar no aterro por uma passagem secreta. Crianças eram proibidas. As meninas encontravam tesouros no lixo, como bonecas da Xuxa. E tomavam banho no mangue. Para que os guardas não as vissem, Geruza as escondia em pequenos barris e os cobria de lona. "O aterro da novela é cinzento demais. Criança não vê assim. A gente se divertia. Só na adolescência percebemos que era lixão", diz Luciana.


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